Cerrado invisível: quem são os povos tradicionais que protegem o bioma mais desmatado do Brasil
Modos de vida em harmonia com a natureza contribuem para a proteção dos biomas, garantindo a todos água, ar e alimento de qualidade Thomas Bauer/ISPN O Cerra...

Modos de vida em harmonia com a natureza contribuem para a proteção dos biomas, garantindo a todos água, ar e alimento de qualidade Thomas Bauer/ISPN O Cerrado, conhecido como o “coração das águas” do Brasil, ganhou um retrato inédito da diversidade de povos que vivem no bioma. Um levantamento da plataforma Povoado identificou 6.767 comunidades, das quais 2.641 se reconhecem como Povos e Comunidades Tradicionais. Os dados foram sistematizados ao longo de quatro anos e estão disponíveis para consulta pública. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. “Os dados demonstram que o bioma não é um vazio demográfico, mas uma região profundamente habitada, com uma rica sociobiodiversidade que reflete modos de vida tradicionais e sustentáveis”, afirma Yuri Salmona, diretor executivo do Instituto Cerrados. As comunidades estão distribuídas em 480 municípios de 13 estados e representam 21 segmentos diferentes, como: quilombolas (1.015 registros), indígenas (616), comunidades de terreiro (248), geraizeiros (237), ribeirinhos (109) e fundo e fecho de pasto (88). Cerrado perde 40 milhões de hectares em 40 anos Também há registros de vazanteiros e apanhadoras de flores sempre-vivas. Outros 4.126 registros correspondem a Povos Rurais e Camponeses, categoria que inclui comunidades associadas à produção primária e a projetos de assentamento. Parte dessas comunidades também pode se identificar como tradicional, segundo os organizadores da plataforma. Modos de vida e preservação Morador do quilombo Kalunga durante colheita de farinha de mandioca, prática tradicional que ajuda a conservar o Cerrado e manter modos de vida sustentáveis. André Dib Segundo os pesquisadores, os modos de vida coletivos e territoriais dessas comunidades ajudam a conservar a água, a biodiversidade e o clima no Cerrado, mesmo sem o reconhecimento formal de seus territórios. A plataforma destaca que essas populações mantêm práticas sustentáveis transmitidas por gerações e que contribuem diretamente para a conservação ambiental. Os cinco estados com mais comunidades no Cerrado Minas Gerais: 2.115 comunidades Mato Grosso: 960 comunidades Goiás: 882 comunidades Maranhão: 821 comunidades Tocantins: 710 comunidades Comunidades do Cerrado em atividade de coleta e preparo de sementes nativas, parte das práticas tradicionais ligadas ao território. Bento Viana/ISPN Distrito Federal tem mais de 200 comunidades tradicionais No Distrito Federal, foram identificadas 218 comunidades, das quais 203 se reconhecem como Povos e Comunidades Tradicionais. Os registros incluem segmentos como quilombolas, indígenas, comunidades de terreiro e agricultores familiares. Segundo os dados da plataforma, o DF tem uma das maiores densidades de comunidades tradicionais por área entre os estados do Cerrado. A presença desses grupos em território brasiliense reforça a importância de políticas públicas voltadas à proteção cultural e ambiental. Como acessar a plataforma A plataforma Povoado está disponível para acesso público e permite consultas interativas por estado, município e segmento. O endereço é dados.tonomapa.org.br. O sistema também conta com um espaço colaborativo, onde o público pode sugerir correções e complementar informações sobre os territórios. O projeto é um desdobramento da iniciativa Tô no Mapa, aplicativo que possibilita o automapeamento de territórios por agricultores familiares, povos originários e comunidades tradicionais. A base de dados pode subsidiar políticas públicas sobre demarcação de terras, licenciamento ambiental e proteção cultural e ambiental do bioma Cerrado. “Nossa luta é celebrar a diversidade dos povos, porque nela reside nossa riqueza social, biológica e cultural”, afirma André de Moraes, coordenador da iniciativa Tô no Mapa. Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.